Menina aos pedaços.

Menina de coração partido,
Que chora sozinha, e sente calada.
Espera na janela, um sentir aflito.
Agüenta firme, percebe-se cansada.

Menina de cabeça dura,
Apoiada no parapeito...
Dividindo com a lua escura,
O desespero que não tem jeito.

Menina de corpo mole,
O coração não pára quando é dor é assim.
Reação imediata, toma num gole.
Dor de amor tem cura enfim...

Menina de olhos chorosos
Não se contente com esse moço...
Sai da janela, recolha os destroços,
Abra uma porta pro mundo novo.

Menina das unhas roídas
O sol também é companhia
Enxuga as lágrimas, cure as feridas...
Respire no vento, as alegrias.

Menina das pernas bambas

Sai pra vida, pule a janela.
Grita, canta, goza e dança.
Levante e apresente-se a ela.

Menina dos pés no chão
Acontece com a maioria
Dilacerado um coração
É morrer na melancolia.

Menina da alma adulta
Aceite ser mulher,
Santa, divina ou puta;
Paga-se caro ser o que é.

Menina do pensar romance...
Na janela nada acontece;
Se esperar que o amor a alcance
Terás o que merece.

Menina de vida esquecida;

O amor esqueceu de passar...
Se passou foi pela saída,
E como foi, também pode voltar.

Menina cheia de esperança,
Bem vinda ao mundo real.
Amor é feito criança,

Brinca, mas não faz mal...

Desenho de Mariana Antunes

Cama...



Dei vazão ao meu desejo,

Sucumbi ao teu chamado,

Quero dar-te muito mais.

Meu desejo é latente, me enrosco serpente,

No teu corpo, no teu falo e faz.

Te quero na boca, entre as pernas,

Sugar tua última gota, ver teu gozo explodir em festa.

Subo e desço no teu êxtase.

Me enlace num abraço, amanse minha fera.

Ata-me com correntes, abafe o grito,

Gemido de felina, libido de cadela.

E assim te quero na minha intimidade,

Liberta e libertina se me der vontade.

Quando me beija os seios, aguça-me, devaneio...

Um eriçar de pele, arrepio,

Desejo-te no meu meio...

saciando meu cio.

Me come, me morde,

Me invade, me rima.

Me assanha, me domina

Me pro - Mete enquanto pode.

Tua língua lenta é pura malícia,

Meu desejo aumenta a cada carícia,

Me alvoroça, me atormenta...

Delícia.

Obscena, despudorada, nua...

Jogada na cama, aberta, toda sua.

Refém do teu prazer, amarrada no teu olhar,

Me prende em tuas pernas, e prepara-te para entrar.

Dedos a brincar, a perceber o fluido quente...

Invadida, possuída, por teu crescente.

Delírio, ritimado, alucinante...

Devassada, respiração ofegante.

Tua força, teu domínio, teu suor...

Minha entrega, meu desespero, perdição,

Quão fundo tu me alcanças, mais e melhor...

Não resisto e mais um grito, satisfação.

Entra e sai, remeta-me.

Me sinta a pele macia, me toque mais uma vez,

Me diga sacanagens bonitas, me tome mais uma vez.

Me explore com a boca como sempre você fez.

Suas palavras, beijos e tudo mais uma vez...

Quando?

E de repente chega o fim...
Assim, sem nem um prenúncio.
Em que momento podemos perceber que estamos caminhando pro ponto final?
Não senti o cheiro do término.
Não entendi, e nem tenho mais tempo.
Tempo é coisa esquisita mesmo.
O fim nem sempre é sempre trágico.
Coisas boas acabam logo e previsivelmente.
A morte é previsível, mas aparece sorrateira vez em quando.
Coisa ruins são o fim.
Quem é capaz de perceber o exato momento em que fim do sentimento acontece?
Quem já percebeu o extinguir do amor?
Em qual fração de segundo perdemos o respeito?
Perdemos numa frase? Numa atitude? Num pensar repentino? Numa vontade súbita?
Acabou a vontade de seguir em frente, mas só notei isso agora.
Mudei o rumo, sou outra pessoa.
Nem me vi mutante...
Quando era, poderia ter feito de outro jeito.
Agora que sou, nem sei como fazer.
E vai acabar. E vai ser assim de repente. E eu já sei.
Mas quando? Pontuei.
Tenho que preparar o recomeço, posso começar na segunda.