Cenas e cinemas, uma questão apenas!

Ele entrou numa livraria, só pra se proteger da chuva.
Nem gostava de ler...
Ela passou correndo, e ele a viu de lá de dentro.
Saiu... Acendeu um cigarro e ficou olhando pra ela...
Aquela maluca, nem se protege da chuva – pensou ele.
E ela foi, no dilúvio... Despenteada e toda troncha.

Ele acabou o cigarro, e resolveu atravessar a rua e comprar um ingresso pro cinema, trânsito caótico...
Nenhum filme interessante, mas vale o passar do tempo!

Acabada a sessão, volta pra casa.
O filme dizia coisas interessantes afinal.
Tinha uma delicadeza, propunha o respeito.
Isso até chegou a fazer sentido pra ele.

A maluca correndo na chuva, cheia de pressa e compromissos inadiáveis.
Ele ali matando o tempo, vendo a pressa das pessoas.
Ela chegou em casa muito antes dele, nem teve tempo de pensar em filminho ou no assassinato dos ponteiros.
Ele a viu passar, e nem pegou o telefone pra avisá-la.
Deixou-a ir, no seu tempo corrido.
Ele ficou com o dele...
Em casa eles se encontraram, falaram sobre o filme e sobre a correria dela.
Parecia coisa de cinema.
Ele a deixou livre, ela entendeu...
Ela correu pro seu universo, e ele respeitou.
Riram da cena da livraria, se emocionaram com o enredo do filme.
E concluíram, que quando o tempo de cada um está em velocidades diferentes, é melhor cada um ficar na sua, até porque a hora do encontro vai acontecer.
E aí é escolha, rir das cenas ou trazê-las para perto das tragédias reais e cotidianas.
Não fizeram cenas, não fizeram acenos...
Fazem acertos!
Eles gargalharam...
E o tempo não parou!

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