Dói da Doida

Dentro da doida
Confusa e inquieta.
Bom e mau humor repentes.
Repete dia, muda roupa.
Calada nunca.
Meio nonsense, às vezes em silêncio.
Lê bula.
Não toma veneno.
Chora.
Estante de palavras
É o desassossego em pessoa
Que movimenta de poesia a ida...
A vinda é quase sempre pela madrugada.
Insone e sonolenta.
Amiga da lua brilha etílica...
Antítese, paradoxo, antagonismo, oposição, do contra.
Arruma todo dia.
Sem educação e trivial.
Mulézinha e bicho sentimental.
Bagunça o astrológico sem lógica.
Mapeada no astral.
Intensa, de duplo sentido.
Sente sem te dizer.
Brinca e ri muito!
Dentro da doida
Ser inconstante
É uma festa,
Avalanche de muita coisa misturada.

Recorte (Um sorriso pendurado no céu)




Estou te escrevendo, só querendo um eco...
uma voz que se aproxime, que me diga que sente saudades....
que sente falta de meus textos sem sentido, da minha natureza rebelde, dos meus desejos insólitos, do meu hálito moleque, da minha aparência descabelada....
quero só um beijo ao luar...
envolta em estrelas que cintilam, que cegam, banhando o corpo nu a espera do seu....


Adriana Falcão.

OcO

Esperar a esperança sabe...
Saudade a falta faz.
Promessas se não essas, são aquelas.
Então que se cumpra o sentimento.
Apenas.
Amo!

Réquiem para definição.


Tantos cheiros,
Tantos gostos,
Tantos livros,
Tantos gestos,
Tantas palavras,
Tantos eufemismos
Tantas idéias e ideais...
Eu posso ser tantas pessoas;
Posso ser só mais uma.
Faço parte de tantas vidas,
Sou tanto de cada uma delas...
Sou muitos pedaços!
Inteira enfim!!!







Jogatina


Desacostumada de ficar sem
Habituada de não ter
Foste embora e nem deste adeus.
E eu aqui vendo o dia nascer...

Foi por qual motivo
Essa saída repentina?
Era eu quem devia sair
Sorrindo e por cima.

Não por ser mais ou por ser menos
É que eu funciono assim
Saio de cena, e deixo vestígios.
Acostumada com a falta de mim

Mais uma vez uma lição.
Você embaralhou as cartas
Deus as coordenadas
E ganhou sozinho.

Boa sorte para a caminhada
Boa partida
Quem fica sofre
Mas aprende e segue.

Sendo assim, nos esbarramos na frente.
O mundo é uma roda gigante
No limiar da superfície redonda
As pontas se encontram.

Prepara-te meu bem
Não para um revés
Mas para a tua certeza
De que não foste bom jogador.

Cenas e cinemas, uma questão apenas!

Ele entrou numa livraria, só pra se proteger da chuva.
Nem gostava de ler...
Ela passou correndo, e ele a viu de lá de dentro.
Saiu... Acendeu um cigarro e ficou olhando pra ela...
Aquela maluca, nem se protege da chuva – pensou ele.
E ela foi, no dilúvio... Despenteada e toda troncha.

Ele acabou o cigarro, e resolveu atravessar a rua e comprar um ingresso pro cinema, trânsito caótico...
Nenhum filme interessante, mas vale o passar do tempo!

Acabada a sessão, volta pra casa.
O filme dizia coisas interessantes afinal.
Tinha uma delicadeza, propunha o respeito.
Isso até chegou a fazer sentido pra ele.

A maluca correndo na chuva, cheia de pressa e compromissos inadiáveis.
Ele ali matando o tempo, vendo a pressa das pessoas.
Ela chegou em casa muito antes dele, nem teve tempo de pensar em filminho ou no assassinato dos ponteiros.
Ele a viu passar, e nem pegou o telefone pra avisá-la.
Deixou-a ir, no seu tempo corrido.
Ele ficou com o dele...
Em casa eles se encontraram, falaram sobre o filme e sobre a correria dela.
Parecia coisa de cinema.
Ele a deixou livre, ela entendeu...
Ela correu pro seu universo, e ele respeitou.
Riram da cena da livraria, se emocionaram com o enredo do filme.
E concluíram, que quando o tempo de cada um está em velocidades diferentes, é melhor cada um ficar na sua, até porque a hora do encontro vai acontecer.
E aí é escolha, rir das cenas ou trazê-las para perto das tragédias reais e cotidianas.
Não fizeram cenas, não fizeram acenos...
Fazem acertos!
Eles gargalharam...
E o tempo não parou!

As coisas.

Tem dias que as cores mudam de forma
Que os gostos têm outros cheiros
Que as pessoas são verdadeiras
Dá até vontade de acreditar.
Tem vezes que eu sinto dor
Outras vezes certas saudades

Que o coração bate tanto...
Tem momentos que eu esqueço de lembrar.

Numas horas eu choro sorrisos
Noutras gargalho em lágrimas

Num segundo as coisas mudam.
Tudo sai do seu lugar.

Ano que vem eu quero mudanças
No ano passado eu bem que queria transformar
E esse ano passa a minha revelia!
Guardo os desejos pra não empoeirar.
Ontem eu vi um menino
Hoje estava um rapaz

Amanhã minhas rugas...

E tanto fez, como tanto faz.
O QUE VALE É A VERDADE DITA NO AGORA
Que amanhã será mentida.
Não construo mais ideais
Uso tijolos de vida crua.
Gosto do vento, e das gotas de chuva.
Prendo os cabelos, e me escondo num abrigo.

Leio frases que queria ter dito
Busco as formas e os sentidos e sinto medo.

Vendaval, venda os olhos, venda a qualquer preço.

Tem dias que as coisas fogem do meu controle!





Imagem: Carla Barth
Para ver mais: http://www.baixocalao.com/carlabarth

Eu te amo





Ah, se já perdemos a noção da hora..



Se juntos já jogamos tudo fora...



Me conta agora, como hei de partir?



Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios...



Rompi com o mundo, queimei meus navios.



Me diz pra onde é que ainda posso ir?



Se nós, nas travessuras das noites eternas,



Já confundimos tanto as nossas pernas,



Diz, com que pernas eu devo seguir?



Se entornaste a nossa sorte pelo chão,



Se na bagunça do teu coração,



Meu sangue errou de veia e se perdeu...



Como? Se na desordem do armário embutido,



Teu paletó enlaça o meu vestido,



E o teu sapato inda pisa no meu!?



Como? Se nos amamos feito dois pagãos,



Meus seios inda estão nas tuas mãos,



Me explica, com que cara eu vou sair?



Não.



Acho que estás te fazendo de tonto,



Te dei meus olhos pra tomares conta.



Agora conta, como hei de partir?






Imagem: Rico Oliveira

Free lance.





" Minha liberdade pequena enquadrada, me une à liberdadedo mundo.
Mas o que é uma janela se não o ar emoldurado por esquadrias?
( Clarice Lispector)



Mulher que está em paz
Faz feliz o tanto faz.

Vi flores no meu sonho

Acordei cheirando um buquê.

Transformei a minha realidade.

E ri... acho que alto demais.













Ácido acetil sacrifílico.


A raiva que precede o inesperado.
O incômodo daquele sorriso forçado
O nariz entope, pra não deixar sairem os fluxos em verdade.

A voz alterada pra lembrar que é mutante
Fraca e impotente.
Vitamina C de coragem.
Puta gripe do caralho.
Que me deixa fragilizada, idiotizada e boa.
Tosse infinda antes expectorasse a dor
Arrancasse teu cheiro dos pulmões.

A raiva que me faz pior
Palhaça de nariz vermelho
Que escorre veneno

Invejar a respiração feliz dos amantes.

Espelho cretino que nunca mente,
All star cor de rosa, amigo de subidas e descidas.
Não me faltou e me manteve em pé!
Segurasse na mão não teria importância!

Aos acasos e coincidências...
Um brinde.

Gripe alegria que me permite morrer dia seguinte
Mas que me deixa sorver a dor num copo, dois e sei lá quantos.
Tonteria bem vinda, quente o sangue etílico e raivoso.

Atenção, olhei pra mim.
Grande mestre pensamento meu.
Amigo meu, o coração se libertando!

Atchim...
Tirei você de mim!
Saúde

Éles...



Léguas e línguas
Distância entre nós
Lamber pescoço
Enterrar o teu osso
Em mim.

Laços e lenços
Elo entre nós
Secar uma lágrima
Amarrar teu desejo
Em mim.

Lutas e lances
Descontrole em nós
Tocar intensamente
Aproveitar tua força
Em mim.

Letras e livros
O encontro de nós
Sentir as palavras
Traduzindo você
Em mim.


Lendas e luas
Acreditar de nós
Mentiras idealizadas
Acabar histórias
Beleza do fim.

Lágrima e lástima
O fim de nós
Escorrer pela face
Pelo rosto
Sua ida
Sem mim.

D.

Despenteia
Desembaraça
Descabela.
Despenca
Desaba
Descobre.
Desfaz
Disfarça
Desdobra...
Desperta
Desanda
Demais.

Desconfia
Desabafa
Desafia.
Dia a dia

Dor da hora
Da demora
Dois a um
Dói.
Desmente

Descrente
Descarta
Despreza.
Desolada
Despreparada
Desvia...
Dia a dia

Dor da hora
Da demora
Dois a um
Dói.
Depois

Desgraça
E ri...

Desafina
Desconstruída.
Descontraída.
Doida
Danda de si.

Faxina!

Reformulando a caixola, estalou...
Penando na mesmice, cansei!
Acreditando no que vem por aí, entendi.
A hora é essa...
Hora de mudar tudo, repaginar corpo, alma e coração.
Jogar fora o que não presta.
Doar coisas que nos fizeram feliz, mas que não cabem mais.
Limpar em cima do armário, tirar a poeira de si.
De dentro...
Hora de rever pessoas, abandonar outras, ignorar umas, e não perder os tesouros.
Música nova, outro estilo, pegar um pouco mais pesado.
Sair de casa, do trabalho, do clubinho, da frente da TV!
Parece loucura querer mudar, e é...
É foda sair por aí, se desfazendo do confortável!
Mas não tem jeito, alguém me mostrou isso.
Lá se foram meus ontens...
Caramba, agora é outro nível.
Subir escadas.

É escalada mesmo meu irmão...
Trabalhar o fôlego, pra meter o pé.
Pode ser sonho, e meus amanhãs serem recheados de só querer...
Mas agora eu iniciei, já tomei atitudes.
Num gole só, na marra, amarga...
Começa com um delete e termina no deleite!
Mãos a obra mocinha...
Tem muito caco pra catar, muito pó pra espanar...
Tem muita novidade para redecorar o seu cenário.

E a partir de hoje,
Por decreto eu me considero um pouco livre!
Pelo menos do que desceu lixeira abaixo...

Comunicassão.

Hoje eu percebo que falar pra caralho, não facilita a comunicação sabe?
E ter pessoas próximas e que falam tanto quanto, facilita menos ainda...
Não é ruim ter as pessoas falantes por perto, mas chega uma hora em que se fala tanto, mas tanto... que não se diz nada!
A patética idéia de comunicação, só nos faz fracassar... Imagina a total incapacidade de se fazer entender? Só cabe a nós, humanos, estúpidos...

Manolina é que me entende bem, a gente se fala tanto, que chegamos ao cúmulo de não nos ouvirmos.
Analise a seguinte proposta:
-Amiga, vamos à praia amanhã?
- U-hu... demorô, branca pra caralho!
- Mas vamos cedo, se não fica lotado... ( isso é Manolina total)
- Ahh beleza, 11 h tá bom? (11 horas pra mim, é muito cedo inclusive.)
-Já é irmã...
Perfeito, as amigas falam sobre outras futilidades, papos de mulézinha, discutem um pouco de filosofia porque elas são muito inteligentes (ôoo)... E aí, deu a hora de ir pra novela das oito.
- Amanhã em Ipanema então?
-Perfeito, mas a gente se encontra ali no 8 (posto), perto da general Osório tá?
-Tá, quando eu tiver saindo te ligo... ( início de uma comunicação falha, quem marca um dia antes as 11h, não precisa ligar pra avisar que tá saindo). Mea Culpa.
-Beleza, mas Dandolina não se atrasa ... ( certeza de que vai ficar esperando).
- Já é, beijo...
- Beijo.
********
Sabadão, lindo de sol...
Manolina: Acorda as 8, faz escova no cabelinho novo, faz um ultra super hiper mega power tchuri tchuri sucão de frutas e verduras (?)... ela é light!
Prepara uns comes pra levar (cenourinha crua é super aperitivo), lava, corta, embrulha...
Passa mil protetores solares, experimenta 15 biquinis, 13 chinelos, 5 bolsas, e uma cadeira...
até chegar num equilíbrio quase feng shui de ritual praiano.
Nisso já deu 10h, vou ligar pra Danda...
- Bom dia amigaaaaaaaaa (ela adora um bom dia de animadora de acampamento...)
- Coé, tô terminando de me arrumar, já ta pronta?
-Já. 11 h então né?
- Isso, te ligo quando eu chegar.

Dandolina: Acorda as 10, diz que já tava quase pronta, quando na verdade perdeu a hora pra variar, não separou nada, o cabelo está uma tragédia, a parte de cima do único biquíni sumiu misteriosamente no guarda roupa que mais parece uma montanha de feno...
Uma pergunta cretina de se ela já estava pronta, na esperança tola de ouvir um " não... acabei me atrasando ( não ouviu...). drogaaaaaaaa...
Se arruma num tempo máximo, esquece todos os apetrechos indispensáveis, esquece que mora na Tijuca, e que demora pelo menos uns 40min pra chegar em Ipanema de ônibus... ( Por que a comunicação não se baseia na verdade?) Esquece...

Já no ônibus, 11:15h...
Começa o desespero, e uma chuva de mentirinhas (hehehe).
Celular na mão...
- Manu, peguei o ônibus agora, mó trânsito....
Já chegou?
- Não, to em Copa ainda...
- (ufa), ganhei mais uns 15 min.
Beleza, chegando lá, te ligo!-Tá, beijo.
- Beijo.
Chegando em Ipanema ( confessadamente atrasada), meio dia e meia...
Celular de novo, cínica como se estivesse dona da razão...
- Cheguei, cadê você?
- To aqui já ué?
- Na Praça?
- É...
- Também to aqui, mas não to te vendo...
- Mas ta vazio, eu não to te vendo também...
-Pô Manu, cê ta na praça?
- To cacete, não foi o combinado?
- Mas tu ta sentada?
- Claro né?
- Pó... to rodando e não to vendo, Faz assim, me encontra aqui em frente ao super mercado.
- Ahh Danda, pra que que eu vou voltar praí?
- Como assim voltar? Caramba, custa me encontrar aqui?
- Garota, mas a gente vai voltar pra cá?
- Eu lá vou voltar praí Manu, a gente vai pro outro lado cara...
- Porra Danda, tu é foda... Demora e eu que me vire?
- Foi mal, mas não to te vendo aqui...
- Passam misteriosos 10 minutos.
Dúvida: Como assim, duas pessoas estão numa mesma praça, vazia e não se enxergam?
A criatura atrasada, começa a se encher de razão...
E Liga de novo:
- Você tem certeza de que você está na General Osório? To aqui a 10min e você nada...
- To subindo a rua... (ups... na praça não há rua para ser subida)
Estaloooooooooooooooooooooo, descobertaaaaaaaaaaaaaaaaa, e gargalhadas...

A criatura, já estava na praia.
E lá vem ela, esbaforida com 15 coisas num metro e meio de gente, tadinha...
- Não acredito que você tava na praia.
- Ué? Achou que eu tava onde?
- Porra, eu perguntei se você tava na praça, você disse que sim.
- Caralho, Dandaaaaaaaaa... a gente não combinou na praia em frente a general Osório?
- Mas eu perguntei na praça? Você disse é... Achei estranho, e ainda perguntei se você estava sentada, fiquei rodando a praça procurando uma pessoa sentada.
- Hahahahaha...
- Ai amiga como assim? As pessoas se ligam 25 vezes durante 12 minutos e não adianta nada? É isso mesmo? Nossa comunicação não funciona?
- É isso... Não funciona. Vamos voltar pra praia então?
- Não acredito que você me fez sair de onde eu estava, até já tinha arrumado uma barraquinha que nos oferecia descontos, e acho que não teremos mais espaço lá agora...
- A gente arruma outro...
Ódio no coraçãozinho, mas uma vontade de rir absurda...
Deus é bom, com pessoas deficientes... O moço da Barraquinha manteve os decontos e o espaço antes ocupado por ela ainda estavam nos esperando...
Foi uma tarde ótima, de muita cerveja, cenoura inteira (ela não cortou... ) papos sobre tudo, filosofia, livros, músicas, coisas sempre muito interessantes... Ai ai.
As duas falam, falam, falam, e se entendem...
Quando estão sozinhas, e olhando nos olhos uma da outra. Qualquer outra manifestação comunicativa nos afasta. Mas a gente se diverte.
Sempre!

Amor maior...


Não sei fazer mais nada.
Além de amor.
Não vou parar nem um segundo.
Vou fazer o mais profundo.

Nobreza, entrega e romantismo.
Empenho, afinco, e verdade.
Vou fazer um amor tão lindo.
Colorido, liberto e sem vaidade.

Vou fazer amor todos os dias.
Um pouco de cada vez.
Vou mesmo, vou fundo.
Vou fazer o maior amor do mundo.

O ingrediente é fecundo.
Recipiente é perfeito.
O maior amor do mundo...
É pra ser guardado no peito.

Nada de pretensas sentimentalidades.
No meu amor...
Toda a grandiosidade.
O querer intenso.
Nada de sentimento vagabundo.
Porque meu amor é imenso.
Vou fazer o maior amor do mundo.

Confissão.


Feliz demais.
Numa pétala azul.
Sorriso aberto.
Grito espalhado...

Feliz demais.
Num acorde perfeito.
Cerveja gelada.
Tonterias...

Feliz demais.
Na saia rodante.
Dança liberta.
Delírio...

Feliz demais.
No beijo verdade.
Coração repleto.
Paixão...

Feliz, em paz.
Num dia perfeito.
Noite próxima.
Porvir...

Feliz, sem mais.
Amanhã não sei.
Deixar rolar.

Allegria...

Mulher da vida!




Não adianta me adiantar...
Nem tente me atentar.
Não faça força pra me enforcar.
Não espera eu te esperar.

Tudo que eu posso te dar
É beijo, festa e olhar.
Papo reto,
Pouco tato e afeto.

É eu sou assim, boa de samba.
Tem ritmo até o fim.
Gravata e nozinho não são de agrado.
É corpo largado...
Alcançando o céu.
É grito de feira.
É pé descalço.

Não pensa em compensar,
Não enrola, que não vai rolar.
Não liga se eu não te ligar.
Não fique, aqui é o meu lugar!

Guarde seu jeito certinho
Seu machismo chatinho
Seu rico dinheirinho.
E saia já do meu caminho!


Imagem: Rico Oliveira

Os Barcos do Renato.

...
Estamos medindo forças desiguais.
São só palavras, texto, ensaio e cena.
A cada ato enceno a diferença.
Do que é amor ficou o seu retrato.
A peça que interpreto,um improviso insensato.
Essa saudade eu sei de cor...
Sei o caminho dos barcos.
E há muito estou alheio e quem me entende,
Recebe o resto exato e tão pequeno.
É dor, se há, tentava, já não tento;
E ao transformar em dor o que é vaidade;
E ao ter amor, se este é só orgulho,
Eu faço da mentira, liberdade;
E de qualquer quintal, faço cidade;
E insisto que é virtude o que é entulho;
Baldio é o meu terreno e meu alarde.
Eu vejo você se apaixonando outra vez.
Eu fico com a saudade e você com outro alguém.
E você diz que tudo terminou...
Quando qualquer um pode ver,
Que só terminou pra você!

Sorver, Ter...

Hoje eu tive desejos estranhos.
Queria estar na sua cama
Na sua vida
Na sua história.
Percebi, só queria sorvete!

Abri a geladeira e soprou um vento frio
Queria você ali naquele momento.
Te queria pra me proteger entende?
Fechei a geladeira, apagou, voltou a gelar...

Porta fechada não me faz pensar!

Congelado, compactado, imprensado e disfarçado!
Cubos de coração...
Numa fôrma tão igual.
Cansei de ser vários sabores.
Antes fosse ao natural.

Te queria pra esquentar, te queria pra chorar
Pra gritar a alegria e desafinar canções que eu não fiz pra você.
Queria uma geladeira velha, nossa!
Queria uma vida inteira, juntos!

Te queria de noite, cansado, amarrotado, suado e fervendo.
Te queria jogado, deitado, de lado, iluminado e querendo.
Te queria pra mim, dominado, apaixonado, namorado, me comendo!
Podia lamber, tal qual um sorvete!
No copo ou na casquinha?


Sua falta tá doendo.

Citra sumo!

Mais uma festa,
E maquiagem, lápis e batom
Personagem, saia curta e blusa marrom
Falando sobre tudo em alto e bom som.
É guerra, então lá está ela no front!

Uma caipirinha, armando-se,
A segunda, tudo bem...
A terceira é desespero e incerteza.
A quarta é porque ele não vem.

E conversa jogada fora,
E o fingimento nos quadris,
Certezas fora de moda.
Felicidade criada, não condiz.

Conclui-se o mundo dos espertos.
Boas histórias dessas tertúlias.
Nada que vá se esquecer.
Toda dor que vem nos goles.

E chegou ao fim...
A cabeça girando, um gosto;
Em torno do limão.
Um fiapo do gomo explode entre dentes.
Azeda, na porta de casa.

Tudo escoa, vai a baixo
Acaba num banho frio.
Lágrimas e jatos dágua
Olhos borrados, soluço e cama.

Prefiro a acidez frutífera.

Especta, Dor!



É da tua vida que eu queria um naco.
É da tua grandeza que eu queria o rastro.
É dessa tua coragem que eu falo.
É dessa entrega, eu acho.
Pela liberdade que eu te encaixo.
Por isso tudo, tomou-me espaço.
Porque está inteiro, deixou de ser pedaço.
E vai ser pra sempre.

Não é estalo, são apenas palavras.
Que não ouves, por conta dos aplausos.

prALLEr!

Descompromisso fixado.
Desde antes já era o combinado.
Descemos a rua, lado a lado.
Por escolha.
Por onde passamos, escrevemos.
Por conta de nossas gargantas, inflamamos.
Bocarras abertas, palavras flamejantes.
Idéias jorradas, em erupção.
Na encruzilhada sentamos.
Engraçado nos aportar ali.
Rua com nome de Dona.
E a gente falando das verdades.
E um olhava o outro, como se visse a si mesmo.
E visualizamos chamas, gotas e fusões.
E rimos, e nos avisamos.
E nos lembramos de não nos esquecermos.
E comemos no submerso estranho que veio de fora.
Metrô... E rimos!
E voltamos iguais e transformados.
Somos dois mesmo.
Duas faces, dois seres de sagitário.
A se agitar...
Um cavalo, outro homem.
A galopar.
Aí deu meia noite, hora de recomeçar!
E pra propagar:
Parece-nos que só o que fica dos outros, é o que realmente somos em definitivo!!!

Orfãs...

Pus o guarda mágoas na bagagem
E viajei.
Pesada...

Hora de virada
Desconfigurada
Tempo renovável...
O que está não pode ser
O que foi tento esquecer.

Ando lamentando pelos cantos
Quatro coisas por espaço
Pares de pés desencontrados
Amarrando seus cadarços.

Perdoa esse lamento
Faça música e cante ao vento
Ouço sons e vejo cores
Toco sonhos, vendo tempo.

Tudo é movimento.

To grávida de palavras,
Parindo todos os dias.
Dor aguda, contração.
Amor e doação.

Expelindo sou vulcão.

Mãe solteira soletra.

Só em letras...

Quem fica sufoca
E quem vai evapora.
É um acorde,
Um grito pro infinito.
Despertar da inércia
Confusa e silenciosa.

Mãe cadê meu pai?

Jardineiro Infiel!

Pare de gritar senhor, preciso me escutar...
Não exponha opiniões doutor, eu preciso acreditar.
Não me fale do amor, que não podes aceitar.
Isso que me lateja é dor, e eu preciso me curar.
Faça-me um favor, deixe-me respirar...


Cada um com seu humor, tem de se aceitar.
Sendo bom ator, tens mais chances de conquistar...
Sendo bom conquistador não preciso atuar.
Tenho rimas a compor, estrofes a criar.


Não me fale do meu valor, eu sei onde ele está.
Se fores meu leitor, faço questão de autografar.
Se sou bom jogador, saberei ganhar.


Deixa-me falar amor, vá se precisa ir...
Deixa-me gritar senhor, a vida que escolhi.
Exponha-se doutor, enquanto estou aqui.

Quando me abro em flor, me planto num jardim.
Divirta-se regador, sem desabrochar de mim...
Quando me dói a dor, eu jogo assim:
Brinco, sorrio e satirizo, a condição de ser enfim
A atriz do meu tablado, grande personagem.
Correndo pelas margens alcançando a poesia.
O sentido de tudo fica atrás das rimas pobres, de quem sente de verdade.

Espera...


Sou teu vento, que te muda direção.
Sou pingo grosso, de chuva de verão.
De quem é a chuva?
Da outra estação...


A tempestade que amedronta
O arco íris tímido do horizonte.
O amor teu que o meu confronta
Embate limpo no céu que esconde.


Não espero o frio,
Não quero o vazio entre nós.
Que vai chegar em nuvens carregadas.


Te espero na tua rua,
Batendo no portão.
Não demora, sou repentina.
Esperar me dói, então escolha.
Ficar ou ir?

Eu decido por mim.

Brincar de tempo é olhar no olho do furacão.
Prever o tempo não é saber de temporal.
Perceba que o tempo é curto, é agora.

Decidi, vou trovoar...
Dar tempo ao tempo.

Usar minhas asas enfim.
E eu te esperei...

Mesmo encoberto pela neblina.

Vou clarear o meu novo dia,
Outro sol, um céu azul.
Chuva passageira não volta.
Lembranças do mau tempo, suas...
Que vais ter de me esquecer.

Via láctea...






Foi você o meu guia,
Na subida do nosso momento.
Foi uma ladeira nova pra mim,
Cheguei a perder o fôlego.

Dessa vez subi sem você.
Senti sua falta em todos os pontos.
Em cada parada eu deixei um vestígio do incômodo.
Queria te arrancar do peito, e espalhar teus restos pelo caminho.

Estava era sentindo dor na caminhada
Angústia intensa, lágrima ácida no olho parada...
Os cheiros me lembravam teus olhinhos...
Tua imensa vontade de gritar.

Eu estava ouvindo teus sons
Teu batimento sôfrego
Teu respirar.
Vontade imensa de abraçar, encostar no teu peito.

E chorei...

Não respirava nesta sub _ ida.
Sem tua mão na descida...

Desmoronei...

Você não estava lá.
Presente ausente...
Embrulhado com laço de fita!

Doeu não ter você,
Não consegui não querer.
Acordar de sonho bom, é pesadelo.

Tão boas as nossas risadas juntos.

Atenção desatenta...

Suguei tua energia
Muito rápida e boa a sensação...
E por um instante;
Me fiz feliz.

Eu não tinha você.

Voou...

E levou a minha paz.
E me arrancou as lágrimas,
E se fez angústia...


Sinto muita falta de nós dois.
Do que ainda nem era...
Porque não era amor ainda,
Era apenas descoberta...

Agora acabou, estamos nós na superfície.
Estamos no real inimaginável
E eu só outra vez!


Esta via tem mão dupla,
Láctea e rósea...
Somos nós e nossas escolhas.
Você impediu as minhas.

A minha condição é ser cometa...
Passageira, luminosa, deixando rastro.
Quero ser estrela que não apaga!
A brilhar na imensidão azul.
E permanecer...

Ar rarefeito, seco e impuro...

Destruí a poesia no intuito de fazê-la.
Foi mesmo só minha "A culpa"?
Porque a dor eu sei que é.

Fragilidade Fragmentada!

E a real idade é essa, envelheci.
A realidade é dura, já entendi.
Quero ver a cidade com os olhos de poesia.
Quero veracidade na história da minha vida.
Sê meu enfim...
Semeio palavras
Sem meias palavras

Amar é assim, loucura absoluta.
Rosa com espinhos
Rosa como lagosta
Um sopro vem e muda tudo como le gusta!
Cores misturadas, mais azuis,
Como um quadro de Dali
Da liberdade de ser...
De certezas, asperezas
É mar, é cheia, é maré braba...

Barbas de molho.
Dementes corações, de mentes perturbadas.
Dores de alma, odores de lama.
Um coração que é quadro de cortiça.

Fragmente_se muito ao invés de verdades.
Clareia idéias turvas, na clareira da escuridão...
Lúcida, súbita, estúpida...
Luz pra confusão!


Nó em nós...

"Abriga-te em mim, esconda a minha vergonha.

Mora em ti o aroma selvagem de mil ninfas

Enterre sementes e semeia-me a vida!

Ofereça-me tua carne quente em leve arrpeios

Não fujas, não saias, permaneça...

Lance-me ao centro
Que lhe trarei novos sabores e pequeninas
histórias colhidas nesse vasto mundo .

Entre agora, entre as pernas, entretanto...

Entre as retinas, entre teu lábios, dentro de ti
Oh vasto labirinto de delícias e perdição...

Exagere na força, agarre-se a seiva.

Sopro um vento sutil, leve e lascivo
Recrio o orvalho e trago nos olhos a luz
Que fará renascer tua pele em flor...
Na fome da matilha de homens livres


Grite verdades, explore meus silêncios.

Teu silêncio evoca mil melodias,
Sons de taças em brinde,
Aromas de paixões errantes
E saborosamente envelhecidas .

Seja meu, acalantado amor.

Febril e juvenil
Fui teu em uma estação
Mas em outras tantas
Meu querer pernoitará
Em todo teu ser
E quebrará as correntes
Que me predem ao medo.
De luz, desejo e anseio
Será feita a carruagem do teu destino
Teu corpo nú correrá
Pelos desertos insanos
Do meu delírio


Não me deixe na fria noite, desnuda de teus quereres.
Se queres mandar, eu obedeço
Se te desejo, te quero avesso.
Peça-me o pecado, e te darei na boca.

Não me basta o pecado
Não me basta tua boca
Ou tua muda obediência
Me servirei da sua terna, faminta e suave lúxuria
Serás a taça que embreagará
Todos meus sonhos lúcidos e secretos
Sirva-me teus venenos...


Aposte nos jogos que te proponho...

Venha até minha morada, taberna medieval.
Eterno e breve será o tempo,
Em que meu corpo deslizará
E voará dentro do seu .

Subo-te, és meu cavalo,
Cavalgar, jogar, enlouquecer e eternizar o
Tabuleiro de sensações.

No alvo exposto, aponte a tua seta.
Lança-te a meta
Pontua, e me acerta,
Mantenha-me na reta.

Marque as cartas, não meu corpo
Deixa-me decifrar teu sabor, teu latejar
Devora-me enfim, vamos jogar...
Excitação o jogo vai começar."

Aquarellia

Entende agora como são as coisas?
A vida minha é assim...
Como tardes inesperadas.
Horas improváveis, encontros desencontrados,
Passos desmarcados e quereres indomáveis.

Não há roteiro, não tem regra
É repentino, grandioso e não me pertence mais...

É assim que começa,
Posso perceber tudo desde o início
Pode ser que não seja certo
Pode ser que não desse jeito
Mas eu não quero só acertos
Só não quero marcar com erros.
e o tudo é uma soma de sós...

E vou seguindo, acertando, errando e tentando...
temendo, sentindo, semeando...
Arrisco, me exponho e cutuco onças
Depois eu cato meus caquinhos.
Na selva eu vim pra pintar!

Um quadro, um esboço, ou seu sorriso...
Pincéis, luvas e beijos...
Tintas, cores e texturas...
Colorindo minha loucura, sigo de pé frente ao cavalete!
Me dá a mão?

crônica


Há um tempo atrás
não eram bem assim esses acontecimentos.
Estar na ponta da modernidade,
não era mesmo admitir o tempo.

Estar a mercê das horas
isso é coisa nossa
Antes, importava o agora?
E agora que a coisa é nova?

Meu relógio tão particular.
Acertando os ponteiros da minha história

Viver sem congelar uma imagem
Não permito, guardo na memória.

Moderna e provinciana
Camponesa de selvas musicais
Mundana do espaço meu.
O tempo é meu
Meu ritmo é sincopado

Um coração acelerado
Meu jeito é estranho
Meu Deus, o que há de errado?

Meu bom dia, é de noite...
Minha ida é bem na volta que o mundo dá.
Meus amores são frutas salgadas
Um absurdo particular, lento e constante!

Agora é pura rima.
Dizer o que eu penso,
Sentir minhas agruras...
Antigamente seria loucura.

É a missão da amazona atemporal
que se apresenta na sua cena,
dirigir a carruagem,
guiar os peões.
Tomar as rédeas do alvorecer...
e adormecer nesse novo mundo.

Desliguei o despertador
!

Allegria Parallella!

Paralela
Par a ela
Para lê-la
Para ela
Para Ale lá...
Paralelilás.
Paralelamente.
Para ela mente
Pára e lamente...
A mente dela.
Vai
Volta
Voa
Vil
Balela
Bala
Bela
Boca
Doce de donzela...
Ela é seta, reta, e paralela!

Recomeço...( não sei o autor)

"Eu permito.
Sem considerar nenhum outro desejo que não o de agora.
Sem considerar nenhum passado entre nós ou qualquer possibilidade de futuro.
Permito.
Entrego confiando nos teus olhos todos os passos que nos permitimos até aqui.
Onde zeramos nosso antes e interrogamos o nosso depois.
Aqui eu tiro a roupa dos dias e exijo a tua nudez de mulher e o vermelho da tua boca, a maciez da tua pele, os pêlos na desordem do corpo, os traços e volumes e os músculos e nós.
Nós, a soma do eu e do tu.
O plural, transbordando o copo, o olhar duplicado, as diferenças, a vida comum refletida pelo espelho dos olhos do outro, o elo de qual ligação nos deu o laço de qual sapato, de qual coração vagabundo leviano estamos falando?
Eu permito.
Sabendo de tudo o que eu sei até aqui e ignorando essa trajetória para começar um novo começo.
Porque é preciso desaprender de quando em quando, zerar para uma nova temporada, limpar a pista para um novo desfile, cada pessoa é um novo começo.
Não pense que não..."

A Balada do Cachorro Louco - Lenine

"...eu posso até não achar o seu coração
e talvez esquecer o porquê da missão
que me faz nessa hora aqui presente
e se a minha balada na hora h
atirar para o alvo cegamente
ela é pontiaguda
ela tem direção
ela fere rente
ela é surda, ela é muda a minha bala,
ela fere rente
eu não alimento nenhuma ilusão
eu não sou como o meu semelhante
eu não quero entender
não preciso entender sua mente
sou somente uma alma em tentação
em rota de colisão deslocada,
estranha e aqui presente
e se a minha balada na hora então errar o alvo
na minha frente ela é cega,
ela é burra
ela é explosão
ela fere rente
ela vai, ela fica a minha bala ela fere rente..."

Pessoa em Desassossego

..."tudo isto é uma imensa inconsciência diversificada por caras e corpos que se distinguem, como fantoches movidos pelas cordas que vão dar aos mesmos dedos da mão de quem é invisível.
Passam com todas as atitudes que se define a consciência, e não têm consciência de nada porque não têm consciência sequer de ter consciência.
Uns inteligentes, outros estúpidos, são todos igualmente estúpidos.
Uns velhos, outros jovens, são da mesma idade.
Uns homens, outros mulheres, são do mesmo sexo que não existe."
Pessoa, no livro do desassossego!

Tudo assim...(não sei o autor)

Deixo tudo assim...
Não me importo em ver a idade em mim.
Ouço apenas o que convém.

Eu gosto é do gasto.
Sei do incômodo e você tem razão quando vem dizer que eu preciso sim de todo o cuidado.
E se eu fosse a primeira a voltar pra mudar o que eu fiz?
Quem então agora eu seria?
Tanto faz que o que não foi não é.
Eu sei que ainda vou voltar...
Mas eu quem será?
Deixo tudo assim...
Não me acanho em ver vaidade em mim.
Eu digo o que condiz.
Eu gosto é do estrago.
Sei do escândalo e eles têm razão quando vêm dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo.
Eu não sei mesmo...
Fui tempestade, agora sou vendaval!
Ventania querendo ser brisa.
E se eu for a primeira a prever e poder desistir do que for dar errado?
Ah, ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim;
Dispenso a previsão!
Ah, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser;
aceito a condição.
Vou levando assim...
Que o acaso é amigo do meu coração quando fala comigo,
quando eu sei ouvir...

Allegrai-vos mercadores!


Vou me vender em outros mercados...
Perguntando menos, arriscando e afirmando mais...

Barganhas, façanhas, e minhas sanhas...

Não me atrapalha
Ser fio de navalha
Cortando o que não valha
A pena e apenas se espalha...

À venda, compreenda.
Tenho lá meu preço.
Desvenda teus olhos
Encareço de muito mais...


Estou de olho num horizonte diário,
Sem hora marcada ou pré definições.
Estou dançando na vida,

Rindo muito e brincando de esconde-esconde!
Mas é fácil me achar, estou na Allegria do mundo!

Bem de consumo!

Siga corretamente as instruções.

Sou mistura... calmaria e um toque de frenesi.
Tenho loucuras na fórmula original.
Sou o trago do líquido forte, quente e sorvido sem gelo.
Tomo atitudes impensadas num gole só.
Laço palavras soltas no vento.
Feridas e cicatrizes formam a minha superfície.
Lágrimas, muitas gargalhadas e dores são adicionados constantemente para me fermentar...
Assim eu cresço, e no recheio: cores, sabores e despudores.
Use seus dotes pra se lambuzar...
Agite-me antes de usar, se preferir pode esquentar.
Conserva este produto em local livre e arejado!
Após aberta, devo ser consumida enquanto eu tiver vontade.
A validade encontra-se no coração pulsante desta embalagem.
Sou vontade de ser grande e as vezes querer ser só poeira,
Me use para polvilhar.
Não mantenha longe do alcance de gentes em geral.
Este produto não deve entrar em contato com pessimismos, ignorâncias e covardias, há o risco de explosão!
Se TE causar irritação, suspenda imediatamente o uso.
Se ME causar irritação, suspenda imediatamente o meu impulso.
Sou resultante e experiência.
Os níveis de consumo de mim estão na padronagem de segurança.
O uso abusivo, causa dependência.
Sou endêmica, contagiosa e egocêntrica.
Reações adversas:Cada um com a sua,
Efeitos colaterais são prováveis.
Olhos bem abertos, coração acelerado, vontades súbitas de abraçar, bater e me xingar...
Depois de um tempo, vem a necessidade de me entender, de me guardar ou simplesmente enjôos.
E quando enjoar, não jogue o frasco em vias públicas, coloque em local seguro.
O produto muda eventualmente a embalagem, quase nunca o conteúdo...
Estou no seu caminho, plantada no seu jardim aprenda a me cuidar...
Coma-me, beba-me, engula-me...
Não queira me mastigar.
Um dia sou Pedra, noutros flor e espinho!

Drummonizando poesia!

Procura da Poesia.
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica... Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escurosão indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a natureza nem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas) elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,não indagues.
Não percas tempo em mentir.
Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de família desaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhas tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros.
Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume com seu poder de palavrae seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-o como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta,pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:ermas de melodia e conceito elas se se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,rolam num rio difícil e se transformam em desprezo...

Intermédio!


Quem me vê não sabe nada de mim.
Quem olha pra fora: sonha!
Quem olha pra dentro: acorda!
Plágios mais que descarados.
Efeito mimético, mimado e mentiroso.
Quem quer essência?
Só querem definições...
Eu sou muitas coisas, muitas palavras.
Sou tantos gestos, tantos cheiros e gostos.
Sou nada especial.
Eventualmente sou muito alguém.
Eu é o espelho do outro.
Eu só existe porque o outro vê.
Eu é oquê?
Pergunta o Eu a você.
Eu, ego, mEu, posse.
Eugoísta, Eusperteza...
Euxperimento, Eumbigo...
Eu, Eu, e Eu...
Tudo Eu!!!
Cansei de Euxplicar!
Eu sou muito Eu...
Tanto que não cabe em mim,
Transcende e te afeta.
Te envolve e te penetra.
Não é mais mEu.
Eu não pedi pra ser ninguém
Mas Eu sou, e a responsabilidade é sua!
Desculpe se sou incrível.
Perdão por ser tão detestável.
Assumo só o que sou...
Se o que Eu não sou é tudo que você consegue enxergar...
Paciência!
Passa pra outro.