Quem poderia fotografar, registrar, tatear o instante em que algo se rompe entre duas pessoas?
Quando aconteceu?
De noite, enquanto dormíamos?
No almoço, enquanto comíamos?
Ou muito, muito tempo atrás, apenas não percebemos?
E continuamos a viver, a falar, a nos beijar
A dormir juntos, a procurar a mão do outro, o olhar do outro,
Como bonecos animados que continuam a se movimentar ruidosamente por um tempo, mesmo estando a mola do seu mecanismo quebrada...
... Nada sabemos.
O que posso fazer agora?
Que refletor devo acender para encontrar nessa escuridão, nessa trama, aquele momento único, aquele milésimo de segundo em que algo cessa entre duas pessoas?"
(Sandór Marái)São os últimos acontecimentos,
Essas indispensáveis constatações.
Tem um pouco da frustração,
Do que era grande e agora é a míngua.
Tem o amargo daquilo na ponta da língua.
É a mescla de mágoa, máscaras e perigos
Mentiras, momentos e promessas
Tem um grito abafado, o mofo pesado
O coração machucado.
Nesses tempos chegados o ar falta e a roda gira
Então o medo, o trágico e os recomeços...
É o desconforto, dor mesmo, demorando a passar.
8 comentários:
Entre os muitos mistérios da vida, este está incluso... Momentos... São tão rápidos, tão passageiros, que num piscar de olhos... Pronto! Foram... E assim é. Quando algo acaba entre duas pessoas, nem elas próprias sabem. Portanto só resta nos conformarmos... Entre tantas coisas inexplicáveis, essa é somente mais uma.
Abraços,
Tatiana C.
http://tanaboca-dopovo.blogspot.com
Caramba, tocante *-*
ai que lindo....nao conheço esse autor nao, mas é triste vermos como nao percebemos a dor alheia
Realmente,quem poderia fotografar instantes?...Vários instantes para tonrá-los eternos em papel para que quando nós não tivermos mais condição de lembrar,lembrarmos?
Maravilhosa construção. Delicada, inteligente. Amei.
Talvez tenha sido no instante perigoso em que se percebe que reclamar já não vale mais a pena.
Lembrei da música do Nando Reis. Quem vai dizer Tchau...
Claro que você conhece!!!
Onde existiu um dia conjunção total de almas, a separação instala uma pequena morte. Morre um pouco de nós junto com o que éramos e com o que sentíamos; quando não a alma toda, viço e poesia.
“Sobreviver a uma pessoa que amamos tanto, a ponto de nos dispormos a matar por ela, à qual éramos tão ligados que por pouco não morremos, é um dos crimes mais misteriosos e inqualificáveis da vida”.
(As Brasas – Sándor Márai)
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