Divórcio em Buda

Quem poderia fotografar, registrar, tatear o instante em que algo se rompe entre duas pessoas?
Quando aconteceu?
De noite, enquanto dormíamos?
No almoço, enquanto comíamos?
Ou muito, muito tempo atrás, apenas não percebemos?
E continuamos a viver, a falar, a nos beijar
A dormir juntos, a procurar a mão do outro, o olhar do outro,
Como bonecos animados que continuam a se movimentar ruidosamente por um tempo, mesmo estando a mola do seu mecanismo quebrada...
... Nada sabemos.
O que posso fazer agora?
Que refletor devo acender para encontrar nessa escuridão, nessa trama, aquele momento único, aquele milésimo de segundo em que algo cessa entre duas pessoas?"

(Sandór Marái)

8 comentários:

Tatiana C. Mendes disse...

Entre os muitos mistérios da vida, este está incluso... Momentos... São tão rápidos, tão passageiros, que num piscar de olhos... Pronto! Foram... E assim é. Quando algo acaba entre duas pessoas, nem elas próprias sabem. Portanto só resta nos conformarmos... Entre tantas coisas inexplicáveis, essa é somente mais uma.

Abraços,
Tatiana C.

http://tanaboca-dopovo.blogspot.com

Adalberto Duarte disse...

Caramba, tocante *-*

Anônimo disse...

ai que lindo....nao conheço esse autor nao, mas é triste vermos como nao percebemos a dor alheia

Anônimo disse...

Realmente,quem poderia fotografar instantes?...Vários instantes para tonrá-los eternos em papel para que quando nós não tivermos mais condição de lembrar,lembrarmos?

Katarina disse...

Maravilhosa construção. Delicada, inteligente. Amei.

Ellen Regina disse...

Talvez tenha sido no instante perigoso em que se percebe que reclamar já não vale mais a pena.

Anônimo disse...

Lembrei da música do Nando Reis. Quem vai dizer Tchau...

Claro que você conhece!!!

Uma, Nenhuma, Cem Mil disse...

Onde existiu um dia conjunção total de almas, a separação instala uma pequena morte. Morre um pouco de nós junto com o que éramos e com o que sentíamos; quando não a alma toda, viço e poesia.

“Sobreviver a uma pessoa que amamos tanto, a ponto de nos dispormos a matar por ela, à qual éramos tão ligados que por pouco não morremos, é um dos crimes mais misteriosos e inqualificáveis da vida”.

(As Brasas – Sándor Márai)